EM NOSSA ERA DE INCERTEZAS, é sintomática a consolidação do documentário como arte autônoma e plural, íntima e pública, urgente e perene. Em telas de todos os tamanhos, das salas de cinema aos smartphones, dos home theaters às projeções em galerias, passando pelo computador nosso de todos os dias.

O impacto da revolução digital não tornou cada um de nós um documentarista, exatamente como previra o eterno Ricky Leacock, uma das perdas irreparáveis do ano que passou, mas nos sensibilizou para o gênero como nunca na história do audiovisual. Vemos um documentário potencial em cada esquina, em toda história, como se o avanço tecnológico prefigurasse a instabilidade dos tempos e a premência de seu registro.

O mundo parece em transe, como simbolizado na marcante imagem do fotógrafo nipobrasileiro Roberto Yoshida estampada na capa deste catálogo.

O desafio vencido por cada artista presente na vigorosa seleção deste ano é interpretá-lo, seja mirando o presente ou recuperando o passado, em dimensão íntima ou com escopo social, ou tudo isso ao mesmo tempo agora.

É o que fazem, de maneiras distintas, os dois homenageados pelas retrospectivas desta edição. O restauro pela Cinemateca Brasileira do maior clássico do documentário brasileiro, "Cabra Marcado Para Morrer" (1984) de Eduardo Coutinho, oferece-nos uma rara oportunidade para reconstruir os primeiros passos de formação de um das mais expressivas filmografias documentais contemporâneas.

Por sua vez, o cineasta argentino Andrés Di Tella vem desenvolvendo, no último quarto de século, uma obra delicada e complexa que, a um só tempo, indaga a própria identidade e o espírito da época, o engate entre os registros de ontem e os de hoje. É um privilégio recebê-lo para o primeiro foco exclusivo no país sobre seus filmes.

Nada disso seria possível sem a parceria fiel das instituições oficiais e empresas que se irmanam na viabilização deste festival, assim como das leis federal e estaduais de incentivo fiscal à cultura.

Nossos efusivos agradecimentos também aos cineastas, produtores e técnicos que elegeram o É Tudo Verdade para partilhar suas obras.

Sejam todos bem-vindos!




Amir Labaki
Fundador e Diretor
É Tudo Verdade
Festival Internacional de Documentários





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