A IMPORTÂNCIA CULTURAL que o documentário vem
adquirindo ao longo das últimas décadas, no Brasil e no
mundo, pode ser constatada de várias formas. Dentre
elas, a mais visível se refere ao crescente espaço que as
realizações cinematográficas de não-ficção têm ocupado,
tanto na programação das salas de cinema e de canais
televisivos, como nas páginas dos cadernos de cultura
e de revistas especializadas, além da atenção cada vez
mais consistente de públicos distintos, abrangendo iniciados
e iniciantes.
Na tentativa de compreender o aumento do interesse
por esse tipo específico de produção artística, podemos
nos concentrar em duas facetas que, em sua complementaridade,
constituem a própria lógica de construção do
documentário. De um lado, é evidente que o documentário
atrai a atenção de espectadores dos mais variados
tipos por sua capacidade de tecer comentários diretos
sobre a realidade, por meio de estratégias contundentes
ou sutis, na medida em que obrigatoriamente traz para
o interior de seu discurso assuntos com os quais nos deparamos
no cotidiano, diretamente ou mediados por relatos
de outras pessoas e pelos meios de comunicação.
Por outro lado, a profusão de dispositivos linguísticos que
os documentaristas acionam ou criam revela uma gama de
possibilidades que surpreende mesmo os indivíduos acostumados
com as inovações que o cinema propõe. Ao abordar
temas oriundos de vários campos do conhecimento – política,
economia, religião, filosofia, ciência etc. – o cineasta
reavalia e mesmo reinventa a lógica do documentário, a fim
de permitir que forma e conteúdo convirjam. A pesquisa de
linguagem que se processa pari passu com a busca de conteúdos
relevantes é capaz de aproximar o espectador de aspectos
específicos da linguagem cinematográfica.
No processo de consolidação do documentário como referência
em nosso panorama cultural, o Festival É Tudo Verdade
desempenha um papel central: principal evento dedicado
exclusivamente à cultura do documentário na América
do Sul, o festival foi criado em 1996 pelo crítico Amir Labaki
e chega a sua décima sétima edição oferecendo ao público
um grande leque de obras nacionais e estrangeiras.
Espaço consagrado ao cinema, o CineSESC transcende
a simples exibição de filmes e direciona sua ação para
a confluência entre cultura e educação permanente. Tal
posicionamento explicita o compromisso do SESC com o
fomento de espaços de fruição e discussão artística, e a
parceria dessa instituição com o Festival É Tudo Verdade
age nesse sentido, considerando a arte em conexão permanente
com o desenvolvimento de uma atenção crítica
em relação ao mundo.
Danilo Santos de Miranda
Diretor Regional do SESC São Paulo
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