Como todas as formas de comunicação, os documentários estão sujeitos a manipulações, utilizações interesseiras e outras formas de uso que podem deturpar suas essenciais funções sociais, culturais, educacionais, científicas e lúdicas. É uma ocorrência comum, devido ao poder vigoroso de persuasão e mobilização de documentários.
As novas tendências presentes neste festival, trilham caminhos novos e fascinantes, em que o documentarista assume sua autoria, recriando a realidade a partir de uma interpretação pessoal e voltada para seu potencial criativo e de comunicabilidade. Abandona parcialmente a razão e suas armadilhas, abrindo espaço aos sentidos, instintos, intuição, portanto mais próximos à manifestação artística. Mais próximos inclusive do real e da vida, tão repleta de incertezas, incoerências, fragilidades e impermanência. O próprio conceito de verdade apresenta-se hoje multifacetado, polidimensional, relativo, instável, mais em movimento do que nunca.
A permanência no tempo de um documentário, como na vida, está apoiada na capacidade de sintetizar e transmitir um conjunto de sons e imagens de forma coerente, autêntica e atraente, baseado na realidade ou em sua representação. Esta característica básica persiste, e a "busca da verdade" também, reconstruindo a realidade, não mais como a manifestação de um realizador, mas como um conjunto imensurável de expressões e experimentações cuja somatória delineia os caminhos da evolução humana.
O objeto museológico, a memória de um povo, não mais se restringe a guarda de objetos inertes, remanescentes do passado. Inclui, necessariamente, a expressão audiovisual de nosso tempo, instrumento vivo e essencial para a compreensão dos processos e transformações que construíram, constróem e construirão nosso futuro. Mesmo em nossas destruições.
Marcos Santilli
Diretor do MIS